We’ve updated our Terms of Use to reflect our new entity name and address. You can review the changes here.
We’ve updated our Terms of Use. You can review the changes here.
/
  • Streaming + Download

    Includes unlimited streaming via the free Bandcamp app, plus high-quality download in MP3, FLAC and more.
    Purchasable with gift card

      $9 USD  or more

     

1.
Não há guarda-chuva contra o poema subindo de regiões onde tudo é surpresa como uma flor mesmo num canteiro.  Não há guarda-chuva contra o amor que mastiga e cospe como qualquer boca, que tritura como um desastre.  Não há guarda-chuva contra o tédio: o tédio das quatro paredes, das quatro estações, dos quatro pontos cardeais.  Não há guarda-chuva contra o mundo cada dia devorado nos jornais sob as espécies de papel e tinta.  Não há guarda-chuva contra o tempo, rio fluindo sob a casa, correnteza carregando os dias, os cabelos.
2.
Desordem na alma que se atropela sob esta carne que transparece. Desordem na alma que de ti foge, vaga fumaça que se dispersa, informe nuvem que de ti cresce e cuja face nem reconheces. Tua alma foge como cabelos, cunhas, humores, palavras ditas que não se sabe onde se perde me impregnam a terra com sua morte. Tua alma escapa como este corpo solto no tempo que nada impede. Procura a ordem que vês na pedra: nada se gasta mas permanece. Essa presença que reconheces não se devora tudo em que cresce. Nem mesmo cresce pois permanece fora do tempo que não a mede, pesado sólido que ao fluido vence, que sempre ao fundo das coisas desce. Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: silêncio puro. De pura espécie, voz de silêncio, mais do que a ausência que as vozes ferem.
3.
Canção 04:29
4.
O trem de ferro passa no campo entre telégrafos. Sem poder fugir sem poder voar sem poder sonhar sem poder ser telégrafo. A moça na janela vê o trem correr ouve o tempo passar. O tempo é tanto que se pode ouvir e ela o escuta passar como se outro trem. Cresce o oculto elástico dos gestos: vê planta crescer sente a terra rodar: que o tempo é tanto que se deixa ver.
5.
O poeta 05:14
6.
A bailarina 04:53
A bailarina feita de borracha e pássaro dança no pavimento anterior do sonho.   A três horas de sono, mais além dos sonhos, nas secretas câmaras que a morte revela.   Entre monstros feitos a tinta de escrever, a bailarina feita de borracha e pássaro.   Da diária e lenta borracha que mastigo. do inseto ou pássaro que não sei caçar.
7.
8.
Janelas 05:45
9.
Não se vê no canavial nenhuma planta com nome, nenhuma planta maria, planta com nome de homem. É anônimo o canavial, sem feições, como a campina; é como um mar sem navios, papel em branco de escrita. É como um grande lençol sem dobras e sem bainha; penugem de moça ao sol, roupa lavada estendida. Contudo há no canavial oculta fisionomia: como em pulso de relógio há possível melodia, ou como de um avião a paisagem se organiza, ou há finos desenhos nas pedras da praça vazia. Se venta no canavial estendido sob o sol seu tecido inanimado faz-se sensível lençol, se muda em bandeira viva, de cor verde sobre verde, com estrelas verdes que no verde nascem, se perdem. Não lembra o canavial então, as praças vazias: não tem, como têm as pedras, disciplina de milícias. É solta sua simetria: como a das ondas na areia ou as ondas da multidão lutando na praça cheia. Então, é da praça cheia que o canavial é a imagem: vêem-se as mesmas correntes que se fazem e desfazem, voragens que se desatam, redemoinhos iguais, estrelas iguais àquelas que o povo na praça faz. THE WIND IN THE CANEFIELD There is in the canefield no plant with a name, no plant called Maria, no plant with a man´s name. The canefield is anonymous, plain-faced like the prairie, like an ocean without ships, a blank sheet of paper. It is like a large bedsheet, seamless and creaseless, a girl´s downy skin in the sunlight, cloths spread out to dry. Yet hidden in the canefield there is a physiognomy, as in a watch´s  ticking there is a potential melody, as from a plane the landscape reveals an organization, as bricks in an empty plaza can trace a graceful pattern. The canefield stretched out under  the sun, an inanimate fabric, becomes a feeling sheet when the wind is blowing; It changes into a living flag of green on green, with green stars born and lost in the greenness. The canefield then no longer resembles empty plazas: it does not have, like stones, the discipline of armies. Its symmetry is jagged, like that of waves of people vying in the crowded plaza. Yes, the teeming plaza is what the canefield mirrors with its currents that likewise arise and subside — Undercurrrents which, surging, make whirlpools like the ones crowds form, stars like those the people in the plaza compose.

credits

released June 30, 2018

license

all rights reserved

tags

about

Nando Michelin & Ebinho Cardoso Boston, Massachusetts

contact / help

Contact Nando Michelin & Ebinho Cardoso

Streaming and
Download help

Redeem code

Report this album or account

Nando Michelin & Ebinho Cardoso recommends:

If you like Nando Michelin & Ebinho Cardoso, you may also like: